Ao celebrar 50 anos de
sacerdócio, o arcebispo
emérito de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, fez um alerta contundente sobre a
necessidade de uma vivência da fé que esteja alinhada às realidades sociais. Em
entrevista à Rádio Cidade, ele criticou o que chamou de “alienação na vivência
da fé” e apontou a falta de solidariedade diante de questões como pobreza,
desigualdade e problemas como a depressão, que afetam milhões de brasileiros.
“Não podemos ter uma fé apenas vertical, olhando para cima, sem nos voltarmos
para a dimensão horizontal, que é a transformação do mundo ao nosso redor. O
evangelho diz que eu venho para que tenham vida e a tenham em abundância. Não
podemos ficar alheios a essa missão”, declarou Dom Jaime. O arcebispo destacou que, ao longo de seus 50 anos de sacerdócio, presenciou
situações graves de pobreza e subdesenvolvimento, especialmente no interior do
Rio Grande do Norte. Ele relembrou sua atuação em momentos emblemáticos, como a
desapropriação do Vale do Açu para a construção da Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves, e o doloroso processo de inundação da cidade de São Rafael.
“Presidi momentos muito difíceis, como a mudança da cidade de São Rafael, onde
as pessoas precisaram se desapegar completamente de suas histórias e origens.
Foi um processo muito doloroso, mas também de aprendizado sobre a força da
solidariedade e da fé”, disse Dom Jaime.
Dom Jaime também abordou o drama da depressão, destacando que mesmo figuras
públicas e religiosas enfrentam esse desafio. Ele comentou sobre a confissão
pública do Padre Fábio de Melo, que revelou lutar contra a depressão. “Somos
todos humanos. Não estamos isolados das realidades do mundo. O drama da
depressão é muito presente porque, muitas vezes, as pessoas se sentem
impotentes diante das forças que regem a sociedade”, afirmou.
Ele ainda mencionou o legado de figuras como o Padre Zezinho, que utilizava sua
fé e sabedoria para criticar as grandes potências mundiais e sua falta de
compromisso com a dignidade humana. “Precisamos recolocar a dignidade da pessoa
humana no centro, investir em programas sociais e criar um mundo mais justo e
fraterno. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos uma sociedade
descartável”, alertou. Dom Jaime foi enfático ao destacar a importância de ações concretas para
transformar a realidade das pessoas que vivem em situações de vulnerabilidade.
“Vivemos em um mundo onde parece que duas grandes potências ditam o tom,
descartando completamente a dignidade humana. A humanidade está caminhando para
se tornar um lixão, com sobras e descartes. Isso não pode ser aceito”, afirmou.
O arcebispo também fez um apelo para que a fé cristã seja vivida de forma
integrada com a solidariedade. “Não é possível viver uma fé alienada,
desconectada das realidades do mundo. O evangelho nos chama à ação, à
transformação, à construção de um mundo melhor”, concluiu. Dom Jaime celebrará seu jubileu sacerdotal no dia 1º de fevereiro, com uma
missa em ação de graças às 10h, na Catedral Metropolitana de Natal. A cerimônia
contará com a presença de bispos amigos, como Dom Edilson Soares Nobre, e de
fiéis que acompanharam a trajetória de Dom Jaime ao longo de meio século.
“Agradeço a Deus por todas as bênçãos que Ele concedeu ao longo desses 50 anos.
Com todos os desafios, sofrimentos e esperanças, estou aqui celebrando este
momento, que é uma graça muito grande”, declarou Dom Jaime, convidando os fiéis
para a celebração. O arcebispo emérito encerrou sua entrevista com uma mensagem de esperança e
renovação da fé: “Que possamos nos comprometer cada vez mais com o evangelho,
com a solidariedade e com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.”
Via: Agora RN
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