O presidente Paul Biya, de 92
anos, foi reeleito para um oitavo mandato à frente de Camarões, país da África
Central que ele governa há mais de quatro décadas. Segundo os resultados
oficiais divulgados nesta segunda-feira pelo Conselho Constitucional, Biya
obteve 53,7% dos votos nas eleições de 12 de outubro.
Seu principal rival, o
ex-ministro Issa Tchiroma Bakary, ficou em segundo lugar com 35,19%. O
opositor, porém, reivindica a vitória e convocou os camaroneses a irem às ruas
para “defender o resultado real”.
Antes da votação, o clima no
país, que tem cerca de 30 milhões de habitantes, já era tenso. A decisão de
Biya de concorrer novamente provocou revolta entre jovens e opositores.
— Estou disposto a arriscar a
vida para defender meu voto. Votei em Tchiroma porque quero mudança — afirmou
Oumarou Bouba, comerciante de 27 anos, morador de Maroua. As manifestações
convocadas pela oposição no domingo resultaram em quatro mortes em Douala, a
maior cidade do país. De acordo com testemunhas e militantes, a repressão
policial incluiu o uso de munição real.
Segundo informações do
tabloide britânico Daily Star, autoridades locais confirmaram que diversos
agentes ficaram feridos e que pelo menos 105 manifestantes foram presos. Vídeos
que circulam nas redes sociais mostram correria e confronto nas ruas de Douala
e de outras cidades do norte, como Garoua e Maroua, com a polícia lançando gás
lacrimogêneo para dispersar as multidões.
Nos últimos dias, centenas de
apoiadores da oposição, ativistas e líderes políticos foram detidos. O ministro
da Administração Territorial, Paul Atanga Nji, afirmou que várias pessoas foram
presas sob suspeita de planejar ataques violentos durante os protestos.
O líder mais longevo do mundo
Biya é o chefe de Estado em
exercício mais velho do planeta e o segundo presidente da história de Camarões,
independente da França desde 1960. Ele chegou ao poder em 1982, após a renúncia
do primeiro líder do país, e nunca mais deixou o cargo. Aos 92 anos, o
presidente governa há tanto tempo que a maioria dos camaroneses nunca conheceu
outro líder. Mais de 70% da população tem menos de 35 anos, o que reforça o
contraste entre a juventude do país e a longevidade do governante.
Ao longo de mais de 40 anos,
Biya sobreviveu a crises econômicas, resistiu a pressões internacionais e
restringiu o espaço da oposição, segundo seus críticos. Em 2008, ele alterou a
Constituição para abolir o limite de mandatos presidenciais, abrindo caminho
para continuar no poder indefinidamente.
Conflitos e descontentamento
O país enfrenta diversos focos
de tensão, entre eles um conflito separatista nas regiões anglófonas do
Noroeste e Sudoeste, que começou em 2016, após o governo tentar impor o uso do
francês em escolas e tribunais dessas áreas. A guerra interna já deixou quase 7
mil mortos, mais de 1 milhão de deslocados e milhares de refugiados na Nigéria.
Além disso, Camarões sofre com
ataques do grupo extremista Boko Haram no norte e altos índices de desemprego e
pobreza. Embora o país seja rico em petróleo e apresente crescimento econômico
moderado, os jovens reclamam da falta de oportunidades. Dados do Banco Mundial
apontam que 57% dos trabalhadores entre 18 e 35 anos atuam na economia
informal.
Saúde e bastidores do poder
A saúde de Biya é alvo
constante de especulações. O presidente passa longos períodos na Europa, e
muitas decisões importantes são tomadas por assessores e familiares próximos. Críticos
afirmam que o governo camaronês vive uma espécie de “monarquia política”,
sustentada por um sistema eleitoral acusado de favorecer o poder atual.
Apesar das críticas, a maioria
dos analistas já esperava a vitória de Biya, num processo considerado
“controlado” por seus opositores.
Via: Extra


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