Em cinco anos, o número de
brasileiros que apostaram nas chamadas bets chegou a 52
milhões. Do total, 48% são considerados novos jogadores
– apostaram nos primeiros sete meses deste ano. Os dados fazem parte
de pesquisa de opinião do Instituto Locomotiva, aplicada entre os dias 3 e
7 de agosto. O hábito de tentar a sorte nas plataformas eletrônicas atinge uma
população no Brasil do mesmo tamanho do número de habitantes da Colômbia e
superior à de países como Coreia do Sul, Espanha e Argentina.
O levantamento traçou um
perfil dos apostadores de bets. Cinquenta e três por cento são homens e 47% são
mulheres. Quatro de cada dez jogadores têm entre 18 e 29 anos; 41% estão na
faixa etária de 30 a 49 anos; e 19% têm 50 anos ou mais. Oito de cada dez
são pessoas das classes CD e E; e dois de cada dez são classe A ou B.
Sete de cada dez apostadores
costumam jogar pelo menos uma vez ao mês. Sessenta por cento dos que já
ganharam a aposta usam ao menos parte do valor do prêmio para tentar nova
jogada. Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, a facilidade
de fazer aposta nos celulares à mão, o apelo publicitário das bets patrocinando
times e campeonatos brasileiros, e a dinâmica do jogo são atrativos das
plataformas de jogos online.
“A pessoa aposta em quem vai
fazer o gol, se o gol será feito no primeiro ou no segundo tempo, como ficará a
tabela do Campeonato Brasileiro, se alguém vai tomar cartão vermelho ou não…
Essa lógica faz com que alguma coisa o sujeito ganhe. No final ele perde mais
do que ganha, mas essa sensação de ganho é uma sensação muito forte na cabeça
dele. E isso acaba permeando esse imaginário de que está sempre ganhando”, diz
o presidente do Instituto Locomotiva.
Nome sujo
O Instituto Locomotiva também
verificou que 86% das pessoas que apostam têm dívida e que 64% estão
negativados na Serasa. Do universo de pessoas endividadas e inadimplentes no
Brasil, 31% jogam nas bets. “Quando uma pessoa endividada opta por apostar, muitas
vezes na perspectiva de sair do endividamento, nós temos alguma coisa errada
nisso”, pondera Renato Meirelles.
A situação econômica ajuda a
entender por que “ganhar dinheiro” é a principal razão apontada
para fazer apostas esportivas online (53%) – acima de
“diversão/entretenimento/prazer” (22%); “emoção e adrenalina” (10%); “passar o
tempo” (7%); “curiosidade” (6%); e “aliviar o estresse” (2%).
Meirelles considera o fenômeno
das apostas esportivas eletrônicas “uma pandemia” com efeitos sobre a saúde
mental. A pesquisa levantou informações e opiniões sobre o impacto psicológico
das apostas. Sessenta e sete por cento dos entrevistados conhecem pessoas que
“estão viciadas em apostas esportivas”.
Estado emocional
Entre os
entrevistados, há quem acredite que o jogo aumente a ansiedade (51%);
cause mudanças repentinas de humor (27%); possa gerar estresse (26%) e
sentimento de culpa (23%). Quanto aos entrevistados que fazem apostas online,
seis de cada dez admitem que a prática afeta o estado emocional e
causa sentimentos negativos como ansiedade (41%); estresse (17%) e culpa
(9%).
O relatório da pesquisa
assinala descontrole entre parte dos apostadores. Segundo os dados, 45%
dos entrevistados jogadores admitem que as apostas esportivas “já causaram
prejuízos financeiros”, 37% dizem ter usado “dinheiro destinado a outras coisas
importantes para apostar online” e 30% afirmaram ter “prejuízos nas
relações pessoais”.
Mas também são apontados
sentimentos positivos como emoção (54%); felicidade (37%) e alívio (11%). Para
42%, as apostas esportivas online “são uma forma de escapar de
problemas ou emoções negativas.”
A pesquisa do Instituto
Locomotiva entrevistou 2.060 pessoas, com 18 anos ou mais, de 142 cidades de
todo o país. O levantamento foi feito entre os dias 3 e 7 de agosto, por meio
de telefone em plataforma de autopreenchimento. A margem de erro é de
2,1 pontos percentuais em um intervalo de confiança de 95%.
O crescimento de apostadores a
partir de janeiro deste ano ocorreu após a sanção da Lei
14.790/2023, que regulamentou a atividade das bets no Brasil. Atualmente,
o Ministério da Fazenda analisa 113 pedidos de regulamentação das
plataformas de aposta online.
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