Prometida inicialmente para
depois das eleições municipais do ano passado, a reforma ministerial planejada
pelo presidente Lula (PT) se arrasta por seis meses e se torna um sinal
adicional da fragilidade política do governo nesta segunda metade do mandato do
petista.
Ainda em 2024, aliados de Lula
afirmavam que o redesenho da Esplanada dos Ministérios era uma medida
importante para o futuro do governo e que seria realizada a partir da
correlação de forças que saísse das urnas nas eleições de outubro. A ideia,
segundo o presidente teria informado a auxiliares, era preparar o governo e
também o PT para a disputa de 2026.
À época, de acordo com relato
de seus interlocutores, o presidente se queixava do desempenho de alguns de
seus ministros. Parte deles, no entanto, permanece na equipe até hoje. Agora,
seis meses depois, aliados de Lula tratam do assunto com ironia. Questionado
sobre a expectativa de desfecho da reforma, um deles devolveu com uma pergunta,
sob reserva, sobre acreditar em Papai Noel.
O comentário não é visto como
um exagero. Ao longo dos meses, foram fixadas diferentes datas para a
consumação da reforma. Após a eleição municipal e o Ano Novo, o chefe da Casa
Civil, Rui Costa, chegou a anunciar para 21 de janeiro a nova escalação do ministério
de Lula. Costa afirmou ainda que o presidente estava focado no aperfeiçoamento
da gestão, e a realização de reforma ainda em janeiro serviria para que os
novos ministros tivessem tempo para fazer as mudanças desejadas por Lula.
Em janeiro, houve apenas uma
substituição no primeiro escalão do governo: a entrada de Sidônio Palmeira na
Secom (Secretaria de Comunicação do Palácio da Presidência) no lugar do
deputado Paulo Pimenta (PT-RS) —que foi criticado publicamente por Lula.
Frustrada a expectativa criada
por Costa, aliados do presidente alegaram que Lula apenas esperaria pelas
eleições na Câmara e no Senado —ocorridas em fevereiro— para a definição da
equipe. Também condicionavam a reforma à sucessão do PT, que poderia mudar o
jogo de forças e a distribuição de ministérios entre diferentes correntes do
partido.
Um dos planos traçados por
Lula apontava para o começo das mudanças “dentro de casa”, ou seja, no PT. Em
fevereiro, o presidente demitiu Nísia Trindade na pasta da Saúde,
substituindo-a por Alexandre Padilha (PT). Para o lugar dele na SRI (Secretaria
de Relações Institucionais), foi nomeada Gleisi Hoffmann, então presidente do
PT.
As poucas mudanças se restringiram a trocas de baixo impacto político, mais vinculadas a nomes da chamada cota pessoal do presidente. Mesmo nomes criticados por Lula em conversas reservadas ou até publicamente, como os ministros Márcio Macêdo (Secretaria-geral da Presidência), Cida Gonçalves (Mulheres), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social), têm sobrevivido à fritura.
Nesses seis meses, Lula enfrentou diversos percalços, incluindo uma cirurgia em decorrência de um acidente doméstico. Em dezembro, ele foi operado às pressas após a constatação de uma hemorragia intracraniana causada por uma queda no Palácio da Alvorada.
Sucessivas crises, como a provocada por disseminação de falsa informação sobre taxação do Pix, deixaram a reforma em segundo plano. Na semana marcada pela morte do papa Francisco, Lula também não se dedicou à articulação da reforma ministerial, segundo um integrante do governo.
De acordo com esse aliado do presidente, Lula ainda está avaliando o impacto que mudanças ministeriais teriam na correlação de forças dentro do governo e com o Congresso. O medo é que eventuais alterações venham a produzir um desarranjo na equipe.
A reforma foi idealizada para que aliados acomodados no governo viessem a se comprometer com a campanha do presidente à reeleição em 2026. Mas dirigentes dos partidos que integram a base aliada afirmam que seu compromisso seria apenas com a governabilidade —e, mesmo assim, sob tensão.
Na avaliação de articuladores políticos de Lula, parlamentares do chamado centrão deram uma prova de deslealdade ao assinarem requerimento de urgência para a proposta de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas, que poderia abranger nomes que planejaram derrubar ou assassinar Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Outro episódio citado como falta de compromisso de partidos que ocupam o primeiro escalão do governo é o recuo do líder do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), que desistiu de assumir o Ministério das Comunicações após ser publicamente anunciado para o cargo.
Conforme o tempo passa, as negociações se tornam mais complicadas devido a um fator eleitoral. Embora muitos partidos prefiram indicar parlamentares para comandar ministérios de suas cotas, esses personagens teriam que deixar o cargo até abril do ano que vem caso pretendam disputar a reeleição ou outro cargo em 2026.
Apesar dos entraves, apoiadores do presidente dizem permanecer otimistas com uma eventual melhora da economia e dos índices de avaliação de Lula, o que faria com que os aliados permanecessem na base, no controle de ministérios e até possam apoiar a reeleição.
Via: Folha de S.Paulo
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