segunda-feira, 31 de julho de 2023

MUNDO: Investigação de abusos sexuais na Igreja desafia segunda visita de Francisco a Portugal

O encontro com vítimas de abuso sexual não está previsto na agenda oficial, mas é esperado em algum período das 104 horas em que o Papa Francisco permanecerá em Portugal durante esta semana.

Assim como ocorreu em outros países afetados por escândalos de pedofilia na Igreja Católica, o Pontífice não fugirá ao tema: deverá conversar com testemunhas, mas sempre longe da exposição públicaNesta segunda viagem ao país, Francisco vai liderar a Jornada Mundial da Juventude — a quarta de seu Pontificado.

Sob a sombra do encontro, reside o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, que em janeiro passado apontou 4.815 vítimas entre 1950 e 2022, a maioria com idades entre 10 e 14 anos. Pelo menos quatro padres — entre mais de 20 denunciados — foram afastados pelas autoridades eclesiásticas. Nos últimos dias, os cenários mais conhecidos da capital portuguesa se encheram de peregrinos católicos à espera do Papa, enquanto os lisboetas tratavam de deixar a cidade às pressas, para fugir do caos provocado pela jornada.

Francisco desembarca na quarta-feira (2), escoltado por caças da Força Aérea Portuguesa. Mais de um milhão de pessoas deverão participar, até domingo (6), das 19 cerimônias programadas com a presença do chefe da Igreja Católica. A visita do Papa a Portugal desatou controvérsias em relação aos gastos, que rondam os 160 milhões de euros — parte deles em obras realizadas sem licitação. O artista plástico Bordalo II materializou a onda de críticas num tapete de notas gigantes de 500 euros que estendeu no altar-palco onde Francisco participará, no sábado, de uma vigília e celebrará uma missa, no dia seguinte.

“Num Estado laico, no momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar o tour da multinacional italiana”, justificou o artista em suas redes sociais para a obra batizada de “Tapete da vergonha”. Estima-se que o governo português tenha gastado 36 milhões de euros com a visita papal, e a mesma quantia tenha sido investida pela Prefeitura de Lisboa. Com nove metros de altura e capacidade para duas mil pessoas, o altar-palco foi previsto inicialmente para custar 4,24 milhões de euros, mas, diante das críticas, seu valor foi reduzido praticamente para a metade.

Outras polêmicas foram expostas. O selo comemorativo da jornada exibia a imagem do Papa, de pé, no Monumento dos Descobrimentos, numa alusão ao Infante D. Henrique, e foi associada ao colonialismo e à ditadura salazaristaElaborado pelo artista italiano Stefano Morri, o selo acabou sendo retirado de circulação, embora 45 mil exemplares tenham sido impressos.

Disfarçado de operário, Bordalo II não teve problemas em entrar tranquilamente num local que deveria ser rigorosamente vigiado, e instalar o seu tapete de notas de 500 euros no altar-palco, levantando outra preocupação – a segurança do Pontífice durante a estada em Portugal.

Por Sandra Cohen

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