quarta-feira, 12 de abril de 2023

SAÚDE: Brasil abandona uso e produção da vacina da AstraZeneca contra a covid-19

Desde o final do ano passado, o Ministério da Saúde recomenda que as vacinas de vetor viral (AstraZeneca e Janssen) não sejam mais aplicadas como reforço contra a covid-19, a partir da terceira dose, na população com menos de 40 anos. O motivo da decisão é o risco aumentado de trombose, principalmente em mulheres.

A nota técnica, publicada em 27 de dezembro de 2022, passou despercebida em meio ao caos que tomou conta do país após a posse do presidente Lula e a invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro. Segundo o documento, “do total de 40 casos prováveis e confirmados de Síndrome de Trombose com Trombocitopenia distribuídos por dose de vacina para covid-19, notificados no e-SUS Notifica Brasil (excluindo-se São Paulo), 34 foram atribuídos à vacina da AstraZeneca”.

Os incidentes foram registrados entre janeiro de 2021 e 17 de setembro de 2022. A maioria deles ocorreu cerca de duas semanas após a vacinação. A produção do soro pela Fiocruz, que assinou, no início de 2020, um acordo com o laboratório anglo-sueco para a produção de uma versão 100% nacionalizada do imunizante foi interrompida, e o contrato não foi renovado. Até janeiro de 2022, a vacina já tinha sido usada em cerca de 115,6 milhões de pessoas no país.

A vacina recombinante Oxford/Covishield (Fiocruz e AstraZeneca) foi bastante usada como dose de reforço no ano passado, explicou à RFI Brasil o infectologista Julio Croda, especialista da Fiocruz, professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e da Faculdade de Saúde Pública de Yale, nos EUA. “O Brasil tem, dentro do seu programa nacional de imunização, um sistema de farmacovigilância que é justamente feito para avaliar os eventos adversos associados às diversas vacinas. Através desse monitoramento, foi identificado um aumento de risco, eventualmente para trombose, principalmente em pessoas jovens, abaixo de 40 anos e mulheres”, explicou o infectologista.

Isso é bastante similar ao que foi identificado em outros países, como no Reino Unido, no caso da vacina da AstraZeneca, e nos Estados Unidos, no caso da vacina da Janssen. Julio Croda, infectologista Ele ressalta que o efeito adverso observado após a aplicação do imunizante, que utiliza o adenovírus de chimpanzé como vetor viral, é raro. “No custo-benefício, ainda compensa utilizá-la no esquema inicial, porque o risco de trombose por covid-19 é bem maior do que o risco de trombose pelo uso da vacina”, avalia.

“Mas, no contexto de uma população jovem, com elevada cobertura vacinal, os efeitos raros devem ser levados em conta. Além disso, outros imunizantes não apresentam esse risco e o Ministério da Saúde, utilizando dados de outros países e de seu próprio sistema de farmacovigilância, decidiu fazer uma mudança importante, deixando de recomendar a vacina como dose de reforço em menores de 40 anos. Então, preferencialmente, essas pessoas devem usar outro imunizante”, frisa. A vacina da Pfizer, nos primeiros dois anos de epidemia, foi considerada como um artigo de luxo. Os lotes eram reservados prioritariamente às populações dos países desenvolvidos. EUA, França e muitos outros podiam garantir suas doses em contratos milionários, em um cenário de oferta restrita e alta demanda. A aplicação do imunizante da AstraZeneca se justificava neste contexto, diz o infectologista.

“Nesse caso, o benefício compensava o risco do efeito adverso raro. Mas agora, no Brasil, onde existem contratos específicos para vacinas de RNA e eventualmente para Coronavac, optou-se por não usar mais a vacina da AstraZeneca nos mais jovens. Isso impacta diretamente a utilização global da vacina e os contratos do Ministério da Saúde. Como acima de 40 anos a cobertura para duas doses de vacina em esquema inicial é mais de 95%, o Ministério optou por não renovar o contrato com a Fundação Oswaldo Cruz. Sem contrato, a vacina deixa de ser produzida e utilizada no país”, explica.

Via: Jair Sampaio

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