sexta-feira, 9 de outubro de 2020

ECONOMIA: 15 milhões devem voltar à pobreza com fim do auxílio emergencial, diz FGV

A população pobre no Brasil caiu 23,7% de 2019 a agosto deste ano, segundo estudo da FGV Social. O percentual representa 15 milhões de pessoas. O resultado, no entanto, está diretamente ligado ao auxílio emergencial, que foi concedido pelo governo federal para mitigar os efeitos da crise econômica causada pela pandemia de covid-19.

Com o fim do pagamento do benefício, em 31 de dezembro, esse contingente deve voltar à pobreza. “O retorno à pobreza dessas 15 milhões de pessoas é 1 cenário até conservador. O Brasil foi o país da América Latina que mais concedeu auxílio proporcionalmente ao seu PIB [Produto Interno Bruto], mas não era o que estava em melhores condições“, disse economista Marcelo Neri, coordenador do levantamento.

A explicação para a redução na pobreza está relacionada com o valor do auxílio. A faixa mais pobre da população recebe até 1/2 salário mínimo por pessoa. Essa quantia é inferior aos R$ 600 concedidos pelo governo em cada uma das 5 de 9 parcelas do benefício. As outras 4 parcelas são no valor de R$ 300.

“O país teve generosidade, mas não sei se teve sabedoria. Vamos saber daqui a 1 ano“, disse Neri. “Há a retomada no mercado de trabalho, mas com muitas incertezas para o próximo ano. Não se sabe quando sai a vacina ou qual seria o impacto de uma 2ª onda de covid-19.“ O Rio Grande do Sul foi o único Estado que registrou aumento no número da população pobre. Teve alta de 0,45%. Segundo Neri, o fato não é preocupante.

“Lá a pobreza aumentou pouco. É 1 lugar que fez alguns ajustes, como na previdência, e está fazendo outros. É o 2º estado em número de idosos, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. O auxílio emergencial está pouco presente no Rio Grande do Sul, assim como na região Sudeste“, afirmou.

Segundo o levantamento, as maiores reduções foram no Nordeste (-30,4%) e no Norte (-27,5%). A população dessas regiões está entre as que mais dependem de auxílios federais para sobreviver. Em agosto, por exemplo, o número de beneficiários do Bolsa Família superou o de empregos com carteira assinada (o que exclui setor público) em 10 Estados das regiões Norte e Nordeste.

Só 3 Estados na região Norte (Tocantins, Rondônia e Roraima) e 3 no Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco) registram mais empregos formais com carteira que benefícios no programa.

“Nove meses de auxílio correspondem a 9 anos de Bolsa Família. Agora virá o Renda Cidadã, mas não sabemos ainda em que patamares”, disse Neri, se referindo ao programa que o governo de Jair Bolsonaro estuda para substituir o Bolsa Família e o auxílio emergencial. O valor do programa, no entanto, não foi definido.

As informações são do Estado de S. Paulo, que teve acesso ao estudo.

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