Atravessada por múltiplos
fatores e frequentemente estigmatizada, a depressão é um transtorno frequente
globalmente, afetando mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Não é diferente para o estado do Rio
Grande do Norte. Em 2023, Natal registrou um percentual de 13,2% de adultos,
cerca de 117 mil pessoas, com diagnóstico médico de depressão. O percentual é o
maior dentre todas as capitais nordestinas, empatado com Fortaleza, no Ceará.
Os dados vêm da pesquisa Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, e apontam para um aumento nos casos diagnosticados da doença. Em 2021, último ano em que o relatório havia sido divulgado, a capital potiguar apresentava um percentual de 11,8% de adultos com depressão, constatando-se um crescimento de 1,4% de diagnósticos em dois anos. Segundo a pesquisa, no ano passado, as mulheres representavam a maior porcentagem, correspondendo a 17,3%, enquanto homens respondiam por 8,5% dos casos de depressão diagnosticados. Para Sarah Oliveira, preceptora psicóloga do Instituto Santos Dumont (ISD), existem alguns fatores facilitadores do diagnóstico. Ela considera que atualmente há uma procura maior por atendimentos terapêuticos, principalmente devido à pandemia, quando a conscientização sobre saúde mental foi um tópico frequentemente debatido.
“Temos os fatores contextuais, nossas histórias de vida, nossos contextos sociais, fatores socioeconômicos, o fator conhecimento, de saber que você pode buscar ajuda, tudo isso tem um peso muito importante. O aumento desses números, apesar de poder chocar, ao mesmo tempo significa que as pessoas estão buscando mais essa ajuda, então esse é um fator a ser levado em consideração”, explica. A psicóloga acrescenta que a ausência de uma rede de apoio, aspectos que envolvem qualidade de vida individual e o adoecimento crônico são também características que aumentam a chance do desenvolvimento de uma doença mental.
Mesmo
com os números indicando uma maior quantidade de pessoas buscando um
diagnóstico, Oliveira reforça que ainda existem barreiras neste percurso. O
acesso à rede de atenção psicossocial, apesar de ser garantido por lei,
apresenta dificuldades. Há uma demanda alta de pacientes, acima da capacidade
de atendimentos, o que, para a profissional, implica em um cenário de
subnotificação de diagnósticos e representa um dos principais obstáculos para o
cuidado de pessoas com depressão.
Sarah
avalia que são comuns “casos em que o acesso à psicoterapia aconteça com menos
frequência do que o necessário, ou que o diagnóstico seja dado por outras
especialidades. O usuário não consegue chegar ao psiquiatra para que se iniciem
outros tipos de intervenções. Quando o usuário continua exposto ao que
influencia esse transtorno, isso se torna uma dificuldade a mais quando essa
pessoa começa, eventualmente, a intervenção”.
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