Às vezes, mentimos aos colegas de trabalho sobre nossas reais
potencialidades, omitindo o quão desgostosos estamos com aquela rotina de
serviços que não têm nada a ver com o que pretendíamos ser. Engolimos nossa
frustração, desviamos nossos olhares, fugimos ao enfrentamento do que poderia –
e deveria – ser mudado, por medo e insegurança, pois temos a mania de nos
sentirmos bem mais incapazes do que na verdade somos.
Outras vezes, mentimos no círculo de amigos, mostrando-nos
simpáticos com todos, como se gostássemos de cada um deles, assim como são.
Fingimos não ouvir os comentários descabidos, não ligar para as gracinhas
desagradáveis, atuamos dolorosamente para não dizer o quanto aquela pessoa é
chata, pois não queremos que ninguém pare de gostar de nós, iludindo-nos com a
ideia equivocada de que somos amados por todos.
Não raro, mentimos aos familiares, sorrindo sempre, o tempo
todo, como se vivêssemos uma vida perfeita, como se nossos filhos não dessem
problemas, como se a lua de mel fosse eterna, todas as noites, no quarto de
casal. Não nos sentimos no direito de dividir as tristezas com quem cresceu no
mesmo lar, não queremos incomodar, não queremos expor os fracassos com que
somos devastados continuamente.
Muitas vezes, mentimos ao parceiro, fingindo que está tudo bem,
que nada mudou desde que nos conhecemos, como se não tivéssemos sido expostos
às fraquezas e ao pior de cada um, como se não tivéssemos nos ofendido com
palavras ofensivamente cruéis, como se não vivêssemos culpando um ao outro pela
grana curta, pelo filho rebelde, pelo tédio que se instala nas noites de
sábado, pelo silêncio ensurdecedor que tira o nosso sono.
O pior de tudo é aquilo que não sai de nós, aquilo que se
acumula na forma de ressentimento e impotência, tudo aquilo que não fizemos,
não dissemos, não fomos ou deixamos de ser. Tentamos inutilmente nos iludir com
as mentiras escapatórias que criamos, pois bem sabemos, no fundo, da nossa
imensa parcela de responsabilidade sobre o curso que tomam nossas vidas.
Por mais que doa, por mais que resistamos, é preciso assumir as
próprias fraquezas, a falência dos sonhos, a tristeza, a decepção e o incômodo
que intranquiliza os nossos dias, conscientizando-nos de que depende tão
somente de nós mesmos a mudança de rumo, de postura, de pensamento que será
capaz de nos tirar de onde nos sentimos tão desconfortáveis.
Ou agimos contra tudo o que nos diminui, ou manteremos a
mentira, a dor e a infelicidade de uma vida vazia e totalmente deslocada do que
realmente queremos para nós. Porque viver sem sorrir é como morrer e continuar
respirando, com sufoco, entre lágrimas, com um coração vazio, sem amor e sem
amar de fato.
Foto de Viktor Vasicsek em Unsplash
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