sexta-feira, 17 de agosto de 2018

MUNDO CRISTÃO: ANÁLISE: Por que é tão difícil punir padres pedófilos?


Um novo relatório estarrecedor revela mil vítimas de abusos sexuais, ao longo de sete décadas em seis das oito dioceses da Pensilvânia. E também consolida a eficiência de uma máquina pilotada pela Igreja Católica para acobertar crimes de padres pedófilos e ajudá-los a escapar da punição.

Escândalos envolvendo autoridades religiosas proliferam com a magnitude de uma epidemia e são o maior desafio ao Pontificado de Francisco. Minam a influência da Igreja na liderança de mais de 1 bilhão de fiéis e pressionam o Papa a ser mais rigoroso do que seus antecessores no combate desses crimes.

Mas, apesar da sua promessa de tolerância zero, ao ser eleito, há cinco anos, os progressos têm sido lentos. As investigações raramente saem da esfera do Vaticano. O próprio Papa admitiu que a Igreja está atrasada. “Chegamos tarde na consciência destes problemas”, reconheceu, no fim do ano passado, aos membros da comissão do Vaticano que lida com abusos sexuais.

Francisco já ouviu vítimas, mas se depara com resistências dentro da Cúria. Estima-se que um terço do Conselho dos Cardeais esteja contaminada pelos escândalos. Em 2015, ele aprovou a criação de um tribunal para examinar casos de religiosos acusados de omissão e de ocultar crimes. A proposta, contudo, esbarrou na Congregação para a Doutrina da Fé e não se concretizou.

Até agora, a punição para sacerdotes e autoridades do Vaticano que molestaram crianças e jovens tem sido apenas o afastamento de suas funções. Foi assim com Theodore McCarrick, o influente ex-arcebispo de Washington, que renunciou recentemente como cardeal, acusado de abusar de meninos por mais de 50 anos.

Durante uma visita ao Chile, onde a cúpula da Igreja é acusada de negligenciar abusos, Francisco defendeu o bispo Juan Barros, que ele próprio nomeara, em 2015. Acabou forçado a voltar atrás, a pedir desculpas e a aceitar a renúncia do religioso.

As dioceses envolvidas em denúncias na Pensilvânia seguiam um manual de conduta para encobrir os crimes: palavras como violação e estupro nunca eram mencionadas; a licença médica era a desculpa para afastar um padre predador; a polícia deveria ser mantida longe das paróquias; e as vítimas tinham asseguradas moradia e despesas.

Assim, segundo o promotor Josh Shapiro, o principal objetivo não era ajudar as vítimas, mas evitar o escândalo. Com isso, a maioria dos crimes prescreveu. Enquanto perpetuar a cultura do silêncio e da impunidade, Francisco estará de mãos atadas, incapaz de evitar a repetição dos crimes.

G1                                                

Nenhum comentário:

Postar um comentário