Um novo relatório
estarrecedor revela mil vítimas de abusos sexuais, ao longo de sete
décadas em seis das oito dioceses da Pensilvânia. E também consolida a
eficiência de uma máquina pilotada pela Igreja Católica para acobertar crimes
de padres pedófilos e ajudá-los a escapar da punição.
Escândalos envolvendo autoridades religiosas proliferam
com a magnitude de uma epidemia e são o maior desafio ao Pontificado de
Francisco. Minam a influência da Igreja na liderança de mais de 1 bilhão de
fiéis e pressionam o Papa a ser mais rigoroso do que seus antecessores no
combate desses crimes.
Mas,
apesar da sua promessa de tolerância zero, ao ser eleito, há cinco anos, os
progressos têm sido lentos. As investigações raramente saem da esfera do
Vaticano. O próprio Papa admitiu que a Igreja está atrasada. “Chegamos tarde na
consciência destes problemas”, reconheceu, no fim do ano passado, aos membros
da comissão do Vaticano que lida com abusos sexuais.
Francisco já ouviu vítimas, mas se depara com
resistências dentro da Cúria. Estima-se que um terço do Conselho dos Cardeais
esteja contaminada pelos escândalos. Em 2015, ele aprovou a criação de um
tribunal para examinar casos de religiosos acusados de omissão e de ocultar
crimes. A proposta, contudo, esbarrou na Congregação para a Doutrina da Fé e
não se concretizou.
Até agora, a punição para sacerdotes e autoridades
do Vaticano que molestaram crianças e jovens tem sido apenas o afastamento de
suas funções. Foi assim com Theodore McCarrick, o influente ex-arcebispo de
Washington, que renunciou recentemente como cardeal, acusado de abusar de
meninos por mais de 50 anos.
Durante uma visita ao Chile, onde a cúpula da Igreja
é acusada de negligenciar abusos, Francisco defendeu o bispo Juan Barros, que
ele próprio nomeara, em 2015. Acabou forçado a voltar atrás, a pedir desculpas
e a aceitar a renúncia do religioso.
As dioceses envolvidas em denúncias na Pensilvânia
seguiam um manual de conduta para encobrir os crimes: palavras como violação e
estupro nunca eram mencionadas; a licença médica era a desculpa para afastar um
padre predador; a polícia deveria ser mantida longe das paróquias; e as vítimas
tinham asseguradas moradia e despesas.
Assim, segundo o promotor Josh Shapiro, o principal
objetivo não era ajudar as vítimas, mas evitar o escândalo. Com isso, a maioria
dos crimes prescreveu. Enquanto perpetuar a cultura do silêncio e da
impunidade, Francisco estará de mãos atadas, incapaz de evitar a repetição dos
crimes.
G1
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