Um grupo de pesquisadores da Universidade de Miami, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade de São Paulo (USP) obteve respostas positivas em macacos rhesus para um futuro tratamento preventivo contra zika em gestantes. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (4), na revista científica "Science Translational Medicine".
O macaco rhesus tem reação parecida ao ser humano ao
entrar em contato com o zika: o vírus consegue infectar, se replicar e causar
danos aos fetos. Por isso, os cientistas escolheram a espécie para os testes em
animais. Antes de chegar à fase com os primatas, os cientistas
passaram por algumas etapas. Anticorpos são moléculas liberadas pelas células
para "proteger" o corpo. As primeiras referências à existência deles
na ciência são datadas do final do século XIX. Se eles são conhecidos há tanto tempo, por que só agora
resolveram usá-los em um tratamento contra o zika?
O trabalho dos cientistas foi identificar quais são as
células de imunização mais eficientes contra o zika, trabalho de engenharia
genética eficiente, mas recente e não popularizado. Primeiro, eles extraíram,
isolaram e purificaram 91 anticorpos monoclonais do sangue humano, a partir de
um paciente que estava infectado pelo vírus -- ou seja: nesta época, a pessoa
estava produzindo uma grande quantidade para combater a doença.
Depois, os cientistas precisaram identificar entre esse
vasto número de moléculas produzidas pelo paciente quais eram os mais
eficientes contra o zika. Foram feitos testes em laboratório para ver as opções
que melhor neutralizavam o vírus. Os anticorpos monoclonais chamados SMZAb1,
SMZAb2 e SMZAb5 foram os mais eficazes. Chegou-se a um coquetel com esse trio.
Nos Estados Unidos, um grupo
de oito macacos rhesus passou por testes para verificar a eficiência de
proteção com esse coquetel. Quatro receberam o trio de anticorpos e os outros
quatro receberam um placebo. Um dia depois, foram infectados pelo vírus da zika
isolado pela equipe do IOC/Fiocruz em 2016, extraído de um paciente do Rio de
Janeiro.
De acordo com o artigo publicado nesta quarta, a taxa de
proteção nos animais chegou a 100%. Testes adicionais demonstraram que os
anticorpos continuaram ativos e em altas quantidades seis meses após a injeção.
Uma dose
desta junção de anticorpos pode ser uma saída mais segura para gestantes
durante a gestação. De acordo com a pesquisadora e uma das autoras do artigo,
Myrna Bonaldo, do IOC/Fiocruz, as vacinas são boas soluções, mas podem
apresentar ainda algum risco para as grávidas porque são feitas com o vírus atenuado
("enfraquecido").
"Para as pessoas em geral, a infecção pelo vírus da zika não causa
grandes problemas. Uma vacina resolve. Agora, durante a gravidez que ocorre o
problema é maior. Não podemos correr o risco de tentar prevenir a mãe e atingir
o bebê", disse.
O próximo passo será a administração do coquetel em
primatas gestantes e, na fase seguinte, em seres humanos. Já prevendo uma possível ocorrência de reação
adversa do sistema imunológico em caso de infecção por dengue, que é da família
dos flavivírus, assim como o zika, os especialistas realizaram pequenas
modificações na estrutura genética dos anticorpos monoclonais para tornar sua
administração ainda mais segura. Desta forma, o coquetel também poderia ser
utilizado por pessoas com histórico de infecção por dengue, incluindo
gestantes.
A descoberta também contou com a colaboração de
especialistas do Instituto de Pesquisa Scripps, da Universidade de Emory, dos
Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e do Instituto Ragon.
Via: G1
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