A Câmara dos Deputados
barrou nesta quarta-feira (2) a denúncia em que a Procuradoria-Geral da
República acusa o presidente Michel Temer de ter cometido crime de corrupção. Votaram
com Temer 263 deputados, que foram contrários à autorização para o Supremo
Tribunal Federal analisar o caso. Outros 227 foram favoráveis ao aval a essa
acusação do Ministério Público, que tem como base a delação de executivos da
JBS. Estiveram ausentes 19 deputados (na prática, votando com o presidente), e
houve duas abstenções.
Temer nega todas as
acusações e diz que a peça assinada por Rodrigo Janot é uma “ficção” baseada em
um ato criminoso patrocinado por um “cafajeste” e “bandido” –em referência à
gravação feita por Joesley Batista, da JBS, de uma conversa que o empresário
teve com o presidente no porão do Palácio do Jaburu. Com a decisão da Câmara, a
denúncia fica congelada até o fim do mandato de Temer, em dezembro do ano que
vem.
TOMA LÁ, DÁ CÁ
Com um dos menores índices
de popularidade da história, na casa dos 7%, Temer é o primeiro presidente da
história do país denunciado no exercício do cargo. Desde que ficou com o
mandato sob risco, ele promoveu uma série de ações com o intuito de angariar
votos na Câmara, principalmente de partidos do chamado “centrão”, grupo de
legenda médias e grandes, como PP, PR e PTB, que reúne cerca de 200 deputados.
Ele recebeu individualmente
mais de uma centena de deputados –só nesta terça (1º) se encontrou com ao menos
35, incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP-SP), almoçou com 58
ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados 100 integrantes do
baixo clero. Vários pleitos foram atendidos, como cargos na máquina federal e
dinheiro para as emendas que os parlamentares fazem ao Orçamento. Nesta quarta,
por exemplo, o deputado Carlos Gaguim (Podemos-TO) foi à tribuna conclamar os
ministros de Temer –vários deles no plenário da Câmara– a continuar a liberar
verbas para as emendas.
O ministro Antonio Imbassahy
(Secretaria de Governo), que reassumiu o mandato de deputado para a votação
desta quarta, conferia a todo momento com o deputado Beto Mansur (PRB-SP), no
meio do plenário, lista com liberação de emendas aos deputados. Blairo Maggi
(Agricultura) despachou de uma das cadeiras do plenário, com auxílio de
assessores da pasta. Deputados chegaram a entregar aos ministros listas por
escrito com seus pleitos na administração federal.
Até o fim da tarde de terça,
véspera da sessão, aliados de Temer perceberam um clima de insatisfação entre
deputados, principalmente do PP e do PR, que reclamavam de ter apenas a
promessa do Planalto sobre a liberação de emendas. O cumprimento, porém, diziam
eles, ainda não estava garantido.
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