O presidente da Rússia,
Vladimir Putin, piscou para a oferta feita na quinta 1º pelo seu colega
americano, Joe Biden, que sugeriu negociar um fim para a Guerra da Ucrânia.
Segundo disse nesta sexta 2 o porta-voz do Kremlin, Dmitri
Peskov, “o presidente da Federação Russa sempre esteve e continua aberto a
negociações para garantir nossos interesses”. Mantendo o tom apaziguador, ele
disse que a negativa dos Estados Unidos em reconhecer a anexação russa de
territórios ucranianos é um fator que deveria ser discutido para desimpedir as
conversas.
A troca de sinais entre as
duas principais potências envolvidas no conflito iniciado por Putin há nove
meses vem na esteira de outros movimentos nas últimas semanas, com Washington
insistindo cada vez mais numa saída para a crise. Ao mesmo tempo, claro, Biden
e outros líderes ocidentais reafirmam seu apoio militar a Kiev, sob risco de
alienar o presidente Volodimir Zelenski –cujo governo já disse temer “uma
facada nas costas”. É uma equação delicada, até porque os EUA estão pagando o
grosso da conta bélica da guerra, tendo empenhado US$ 20 bilhões até aqui em
transferências de armamentos para os ucranianos.
Além disso, está cada vez mais
claro que a Rússia conseguiu contornar o iceberg da catástrofe econômica
colocado em seu caminho pelo regime duro de sanções ocidentais devido à guerra.
O país sofre e terá contração de seu PIB, mas não entrou em insolvência. Concorre
também para a ideia de uma acomodação a percepção crescente no Ocidente de que
o regime de embargo ao petróleo russo na Europa, que passa a valer na segunda
(5) e ainda embute uma negociação para liberar compras abaixo de um teto de
preços estipulado pela Comissão Europeia, não deverá ter muito efeito sobre os
lucros de Moscou na área.
Na quinta, ao lado do francês
Emmanuel Macron, Biden havia dito que “está aberto para conversar” com Putin,
desde que o russo deseje o fim do conflito. Peskov devolveu a condicionante,
dizendo que não haverá retirada de forças do Kremlin das quatro regiões que
declarou suas em 30 de setembro. Somadas à Crimeia, anexada em 2014, as áreas
equivalem a 22% do território ucraniano. Mas Moscou não as controla totalmente,
tendo retraído sua linha defensiva em Kherson (sul) para o sudeste do rio
Dnieper, enquanto ainda avança lentamente em Donetsk (leste) e não ocupa uma
faixa ao norte de Zaporíjia (sul). Só Lugansk (leste) está praticamente toda
dominada.
Peskov foi claro: “Na essência, isso foi o que Biden disse. Ele disse que as negociações são possíveis apenas depois de Putin deixar a Ucrânia”, afirmou, dizendo que isso não iria ocorrer. “Mas ao mesmo tempo, e é muito importante dizer isso, o presidente Putin sempre esteve, e permanece, aberto para contatos, para negociações”, afirmou.
Putin conversou também nesta sexta com o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz. Segundo o Kremlin, o russo disse que a abordagem ocidental, de fornecer armas em grande quantidade para Kiev, é “destrutiva”. Instado a parar os ataques à infraestrutura civil da Ucrânia, particularmente sua rede de energia, o presidente disse que eles continuariam porque eram uma resposta a ações do vizinho como a explosão de parte da ponte que liga a Rússia continental à Crimeia.
Numa outra frente que sugere um certo relaxamento diplomático, a estatal russa de energia atômica Rosatom afirmou que “a bola não está no campo russo” para estabelecer uma zona de segurança em torno da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que está sob controle de tropas de Putin.
Os frequentes ataques na região, que ambos os lados dizem ser feitos pelo inimigo, colocam o local sob risco de um desastre nuclear de grandes proporções. Até aqui, Moscou não aceitava a ideia de uma zona de segurança por achar que ela favoreceria militarmente Kiev. Por sua vez, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, o argentino Rafael Grossi, disse em entrevista que espera que a zona seja estabelecida até o fim do ano.
Igor Gielow – Folhapress
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