Pesquisadores
da USP de Ribeirão Preto (SP) esperam realizar, a partir de 2019, os primeiros testes em humanos de uma técnica que
promete aumentar as expectativas de cura para pacientes com leucemia e linfomas
no Sistema Único de Saúde (SUS).
Inédito
no Brasil, segundo os estudiosos, o método utiliza células geneticamente
modificadas do próprio paciente e é menos agressivo do que a quimioterapia e a
radioterapia. Os trabalhos são conduzidos na Fundação Hemocentro de Ribeirão,
que sedia o Centro de Terapia Celular (CTC/USP). O
objetivo do grupo, formado por 20 pesquisadores, é reduzir os efeitos
colaterais do tratamento ao mesmo tempo em que encontram alternativas para
baixar os seus custos - a terapia personalizada foi desenvolvida pela
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e já está disponível, mas
custa em torno de R$ 1,5 milhão por paciente.
Em
2016, foram registrados 23 mil novos casos de linfoma e leucemia no Brasil,
segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). "Existem
poucas possibilidades de tratamento para esses pacientes hoje e esse novo
tratamento com células é uma esperança grande para que eles possam ficar curados
do câncer", afirma o pesquisador Rodrigo Calado, da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto (FMRP/USP).
O
procedimento consiste em modificar, em laboratório, os linfócitos extraídos do
sangue do paciente - é necessária a retirada de 300 mililitros. Nesse
processo, essas células ganham sensores que as ajudam a reconhecer e a destruir
as células cancerígenas e são expandidas antes de serem introduzidas de volta
na corrente sanguínea, onde se multiplicam. "O medicamento neste caso é a
própria célula do paciente", afirma Calado.
Dentro
do organismo, estima-se que uma única célula modificada seja capaz de destruir
100 mil cancerígenas. "Essa modificação genética impede que a célula do
câncer se esconda do sistema imune." Apesar
da eficácia evidenciada nos estudos fora do país, o método ainda apresenta
efeitos colaterais como a baixa no sistema imunológico e alterações
neurológicas que precisam ser amenizados. A
gente precisa ter segurança de que essa célula não vai causar nenhum mal para o
paciente.
Isso porque a gente modifica essas células geneticamente e isso
precisa ser feito com muito cuidado, com muita segurança dentro do laboratório.
A outra questão são os efeitos colaterais do tratamento em si. Pode existir uma
tempestade inflamatória. Quando você injeta essas células a gente tem uma
reação inflamatória muito grande e isso precisa ser controlado", afirma o
pesquisador.
Hoje,
os pesquisadores testam a técnica em camundongos. Até o fim de deste ano, um
estudo clínico experimental será submetido para avaliação no Comitê Nacional de
Ética em Pesquisa. A
previsão é de que os primeiros pacientes humanos com leucemia linfoide aguda
recebam o tratamento em um ano, em caráter experimental no Hospital das
Clínicas, afirma Kelen Malmegrim de Farias, pesquisadora da Faculdade de
Farmácia da USP. "No
momento a gente está implantando essa tecnologia igual à que é feita no
exterior, mas a ideia é otimizar essa tecnologia pra que a gente tenha um custo
menor aqui no Brasil", diz.
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