Em
um novo livro escrito com um cardeal conservador, o papa emérito Bento XVI defende o celibato do clero da
Igreja Católica, o que pareceu ser um apelo calculado para o papa
Francisco não mudar as regras.
Bento
XVI escreveu "Do Fundo de Nossos Corações" com o cardeal Robert
Sarah, prelado de Guiné de 74 anos que comanda a Congregação para o Louvor
Divino e a Disciplina dos Sacramentos do Vaticano. Trechos
foram publicados no domingo (12) no site do jornal francês "Le
Figaro". O Vaticano não comentou de
imediato o livro, que deve ser lançado nesta segunda-feira (13). Em
outubro, o documento final de um assembleia de bispos católicos, ou sínodo,
sobre a Amazônia propôs que homens casados da região remota
possam ser ordenados como padres, o que provocaria uma mudança
histórica na disciplina de celibato vigente há séculos na Igreja.
O papa Francisco a cogitará, assim como muitas
outras propostas sobre questões que emergiram durante o sínodo, incluindo o
meio ambiente e o papel das mulheres, em um documento de sua autoria, conhecido
como Exortação Apostólica, que deve ser publicado em poucos meses. Em 2013,
quando se tornou o primeiro papa a renunciar em 700 anos, Bento XVI, que mora
no Vaticano e está com 92 anos e saúde frágil, prometeu se manter
"escondido do mundo".
Mas
ele deu entrevistas, escreveu artigos e contribuiu com livros, na prática
rompendo a promessa e animando os conservadores -- alguns dos quais não
reconhecem a legitimidade de Francisco. Massimo
Faggioli, teólogo da Universidade Villanova dos Estados Unidos, considerou o
livro "uma violação grave" do antigo pontífice, que prometeu
"reverência e obediência incondicional" ao sucessor.
Em
sua parte do livro, Bento XVI diz que o celibato, que se
tornou uma tradição estável na Igreja somente cerca de 1 mil anos atrás, tem "grande significado" porque permite que um padre se
concentre em sua vocação. Ele disse que "não parece possível
cumprir as duas vocações (o sacerdócio e o casamento) simultaneamente".
Em
uma introdução conjunta, os dois religiosos dizem que não poderiam silenciar a
respeito do sínodo de outubro, que em alguns momentos provocou choques entre
veículos de mídia católicos progressistas e conservadores, sublinhando a
polarização na Igreja de 1,3 bilhão de fiéis. A
proposta sugere que homens casados mais velhos que já são diáconos da Igreja,
têm um relacionamento familiar estável e são líderes comprovados de suas
comunidades sejam ordenados depois de uma formação adequada.
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